Com direção de Paulo Dourado, o espetáculo Búzios: A Conspiração dos Alfaiates irá encenar na Concha Acústica do Teatro Castro Alves a saga de um dos raros e mais significativos levantes realmente populares da História do Brasil. O espetáculo que integra o projeto Teatro Popular Contemporâneo e tem patrocínio da Oi, através do Programa Oi de Patrocínios Culturais Incentivados 2011. O ingresso deverá ser trocado por 2 kg de alimentos na bilheteria do Teatro Castro Alves. No total, serão seis apresentações de 08 a 13 de novembro, sempre às 19h, com duração de 1 hora e 30 minutos.
A primeira montagem dessa peça foi apresentada em Salvador no ano de 1992 obtendo grande sucesso de público e crítica. Em 2011 o texto de Aninha Franco e Cleise Mendes ganha novo fôlego, a partir do recente reconhecimento oficial dos “Alfaiates” como Heróis da Pátria pelo Congresso Nacional em Brasília. Em função disso, a data de estréia foi estrategicamente escolhida para 08 de novembro, dia em que quatro líderes da rebelião foram executados no Largo da Piedade, em Salvador. Como a temporada se estende até o dia 13/11, Búzios: A Conspiração dos Alfaiates se insere ainda no contexto dos eventos realizados em homenagem a Zumbí e à Consciência Negra (20/11).
Contando com um elenco composto por 20 intérpretes entre atores e músicos, o espetáculo cênico musical pode ser classificado como teatro épico. “A linha narrativa histórica garante o clima épico da trama, mas o roteiro ganha também alguns elementos ficcionais para dar o tom de romance à peça, e assim prender ainda mais a atenção do público. Isso sem contar com a música presente todo o tempo entre as falas”, explica o diretor Paulo Dourado. A trilha sonora original é de Tom Tavares, Carlo Celuque e Aninha Franco, com arranjos atualizados por Tadeu Mascarenhas. As várias canções serão interpretadas pelos atores com o apoio e regência da cantora Aixá Roriz. O evento contará com a participação do Grupo Olodum que tomou a Rebelião dos Búzios como um tema essencial e já produziu mais de 100 composições cujas letras abordam o tema da Conspiração dos Alfaiates.
O objetivo do espetáculo permanece contemporâneo: democratizar o acesso à cultura nacional e oferecer ao público um teatro verdadeiramente popular com um bom nível de elaboração artística. Dourado explica que a proposta fundamentalmente busca entender como funciona o dialogo do teatro com o público dos dias de hoje – viciado em Tv, cinema e internet. “Ao contrário do que se diz o povo gosta (e muito) de teatro. Basta que os espetáculos sejam feitos com respeito e realmente queiram ser apreciados pelo público. É preciso que tratem de temas socialmente relevantes mas, sem didatismo nem pseudo-erudição. Sim, é possível ao teatro ser tão verdadeiramente popular na contemporaneidade como era na Grécia antiga há mais de 2000 anos ”, explica. Quanto a Búzios: A Conspiração dos Alfaiates, Dourado pensa que encenações desse tipo deveriam fazer parte do calendário anual da cidade. “Trata-se de marcos históricos. É preciso que a memória desse e outros movimentos populares baianos importantes para a formação do Brasil, esteja sempre viva e tenha um efetivo reconhecimento coletivo”, justifica.
Sobre a Conspiração dos Alfaiates
O movimento ocorrido em 1798 na Bahia, e conhecido como Revolta dos Búzios ou Conspiração dos Alfaiates, foi um dos raros e significativos levantes realmente populares da História do Brasil. Esta insurreição contra o governo português ficou conhecida por ter sido liderada por um grupo de mulatos, ex-escravos, alguns deles alfaiates de ofício. Este episódio se destaca até hoje na História do Brasil pelo caráter audacioso de suas reivindicações, que incluíam não só o desejo de independência para o país, mas também o de igualdade social, o de igualdade racial e a liberdade de expressão.
Embora seja pouco divulgada, a curiosa mescla de idealismo e antevisão das transformações sociais que animou a sedição baiana representa uma página fundamental da nossa história. Esta ação revolucionária, representada por quatro “alfaiates” foi um levante de inspiração republicana que ameaçou a tranquilidade do governo português e cujo desfecho foi ainda mais trágico que o da Inconfidência Mineira ou da Guerra dos Farrapos – movimentos muito mais conhecidos, embora menos peculiares e relevantes.
A Conspiração dos Alfaiates abarca uma série de eventos fundamentais à compreensão de todo o processo político e cultural que viria a resultar na Independência do Brasil. O fator determinante para que o levante represente uma página fundamental da História da Bahia e do Brasil decorre não do heroísmo militar ou do gesto varonil dos conjurados, mas sim do caráter visionário e intelectualmente audacioso de suas postulações. Essa singular expressão de uma vontade libertária na Bahia Colonial, ao lançar-se contra a Coroa Portuguesa, ambicionava não apenas a independência do país. Pleiteava, sobretudo, um conjunto de direitos humanos e sociais pelos quais ainda se aguardaria por mais um século até a sua difusão e aceitação, como é o caso da igualdade racial ou da liberdade de expressão.
Breve cronologia sobre o projeto Teatro Popular Contemporâneo de Paulo Dourado
1989 – Los Cadedrásticos – A Comédia Bahiana
1992 – A Conspiração dos Alfaiates
1993 – Canudos: A Guerra do Sem Fim
1995 – Lídia de Oxum – Uma Ópera Negra
2000 – Rei Brasil: Uma Ópera Popular
2011 – A Paixão de Cristo
2011 – Búzios: A Conspiração dos Alfaiates
SERVIÇO :
BÚZIOS: A CONSPIRAÇÃO DOS ALFAIATES
Data: 08 a 13 de novembro de 2011
Horário: 19 horas
Local: Concha Acústica do Teatro Castro Alves
Ingressos: 2kg de alimento não perecível, que devem ser trocados na bilheteria do Teatro Castro Alves
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